ESPIRITISMO
E POLÍTICA
Haverá alguma relação entre
espiritismo e política? Esta é uma pergunta que em muitos lugares temos lido e
para a qual há sempre uma resposta negativa: espiritismo nada tem a ver com Política.
No entanto, tais respostas apressadas e, muitas vezes, vazadas em preocupante
tom de que seja até "um pecado", são frutos de desinformação e de
preconceitos consagrados.
Sob o aspecto filosófico, o
espiritismo tem a ver e muito com a Política, já que esta deve ser a arte de
administrar a sociedade de forma justa. Em sua obra básica, O Livro dos
Espíritos, o espiritismo consagra 405 questões, ou seja, da pergunta n.° 614 a 1018, para tratar
das Leis de Adoração, Trabalho, Reprodução, Conservação,Destruição,
Sociedade, Progresso, Igualdade, Liberdade e Justiça, Amor e Caridade.
Tais questões envolvem, portanto, o homem no seu relacionamento com o Criador
da vida, com o planeta em que vive, com seus semelhantes, com
as sociedades de que participa.
Logo, sob o aspecto filosófico, o
espiritismo apresenta normas políticas. O que não se deve, nem se pode, é
confundir essa visão política com a política partidária, ou seja, a política
aplicada que os homens devem exercitar nos núcleos, nas agremiações
partidárias.
Tais partidos são resultantes de
ideologias, de objetivos, de programas, de estatutos estabelecidos em agrupamentos
de determinados homens que visam, de uma forma ou de outra, realizar normas
políticas ideais, ou seja, pretendem a execução na sociedade dos
princípios, das normas apresentadas filosoficamente pela política. Assim,
jamais o espiritismo, como Doutrina, e o movimento espírita, como prática,
poderão dar guarida a um partido político em seu seio, por exemplo: Partido
Social Espírita, Partido Espírita Cristão etc.
Porém, as implicações dos princípios e
normas políticas contidas na Terceira Parte — Das Leis Morais — de O
Livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec, são muito amplas e
profundas na sociedade humana. Por isso, o espírita deve ser consciente e
lúcido na compreensão dessas normas e princípios, a fim de que sua participação
na sociedade seja consentânea com tal visão política, e que, necessariamente,
impõe exercitar a Justiça, o Amor e a Caridade.
Esse entendimento é necessário ao
espírita, pois, conscientemente ou não, ele tem uma prática política,
considerando-se que a própria participação na sociedade é uma participação
política. O homem, por sua natureza, é um ser social: associa-se aos seus
semelhantes para criar os bens necessários ao seu desenvolvimento. Dentre esses
bens, alguns lhe são garantidos pelo agrupamento doméstico, outros são
colocados em disponibilidade por outras instituições, também por ele criadas, a
fim de satisfazerem suas necessidades de natureza social, econômica, cultural e
religiosa, como a escola, a empresa, o clube, a Igreja etc.
Daí a afirmação de Aristóteles:
"O homem é um animal político". O espiritismo demonstra, também, em
sua obra básica, já citada, a necessidade da participação do homem na
sociedade, pois o homem tem que progredir, e isolado ele não tem condições disso,
já que seu progresso depende dos bens que lhe são oferecidos pela família, pela
escola, pela religião e demais agências sociais. Por isso os homens dependem
uns dos outros, foram criados para viver em sociedade e não
isolados.
Assim, as pessoas, as famílias e as
instituições sociais necessitam da paz baseada na justiça, na ordem e na
segurança e de condições para a realização
do bem comum. Para tanto, os homens associam-se
em entidades mais amplas, gerando a sociedade política, personificada no Estado
que, desta forma, se torna o responsável pelo bem de todas as pessoas.