O Futuro do Espiritismo na Era da
Internet
Lembra Kardec: “Uma
publicidade em larga escala, feita nos jornais de maior circulação, levaria
ao mundo inteiro, até às localidades mais distantes, o conhecimento das idéias
espíritas, despertaria o desejo de aprofundá-las e, multiplicando-lhes os
adeptos, imporia silêncio aos detratores, que logo teriam de ceder, diante do
ascendente da opinião geral.”[1].Divulgação
em grande escala se consegue hoje através da Internet, conhecida como a maior
rede de computadores do mundo, que permite trocar informações dos mais variados
assuntos, enviar mensagens, conversar com milhões de pessoas ou apenas ler as
informações de qualquer parte do planeta. Em face disso, cremos que ela tem o
papel mais importante na divulgação do Espiritismo contemporâneo, até porque “recordemos
que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade - a caridade
da sua própria divulgação.” [2]
Na era da cibernética, da
robótica “vivemos épocas limítrofes na qual toda a antiga ordem das
representações e dos saberes oscila para dar lugar a imaginários, modos de
conhecimento e estilos de regulação social ainda poucos estabilizados. Vivemos
um destes raros momentos em que, a partir de uma nova configuração técnica,
quer dizer, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de humanidade é
inventado.”[3]
Há quem compare um microcomputador ao médium, através do qual recebemos
mensagens, sem que vejamos quem enviou a mensagem. Com um grau de interferência
infinitamente menor que o médium humano, transmitindo assim mais fielmente as
mensagens. Razão pelo qual é importante analisar as “mensagens” que recebemos,
pois se queremos conhecer a pessoa que nos escreve, necessitamos analisar o seu
conteúdo. Uma vez que a divulgação na internet deve ser livre, porém aqueles
que querem divulgar o Espiritismo devem ter a consciência da responsabilidade,
procurando sempre saber as finalidades da divulgação e as suas conseqüências,
porque a Internet não é só livre, ela é abrangente. Ela atinge proporções
globais, colocando o Espiritismo face a face com outras realidades.”[4]
É fato que através do computador
não se é possível receber um abraço fraterno, podemos, porém, receber uma
palavra amiga. Recordando que com o acelerado progresso tecnológico já é
possível se obter comunicações audiovisuais o que sem dúvida vai aproximar
ainda mais as pessoas. Cada um de nós, do conforto de nossos lares, pode enviar
uma palavra amiga, disponibilizar as atividades do seu centro, integrar-se em
grupo de estudo e de discussão, ouvir palestras edificantes e até conversar
face a face através do computador com pessoas que precisam ser reconfortadas.
O pessimista e crítico contumaz
lembra da exclusão digital, o que é uma realidade, mas e no futuro? Cremos que
no porvir ter internet em casa será tão comum quanto ter uma geladeira, uma
televisão ou mesmo um telefone.
Existem inúmeros grupos de estudo
e discussões sobre temas espíritas na Internet com um conteúdo magnífico. Não
há dúvida que este é um excelente caminho, especialmente pelo fato de atingir
lugares, e até outros países, onde o Espiritismo ainda é quase desconhecido.
Cremos que os espíritas precisam se acostumar com isto, porque a próxima
geração dominará esta linguagem e, se nós soubermos usá-la, temos um grande
auxiliar do nosso trabalho, tanto para troca de idéias e textos como para
pesquisa.
É importante lembrar que o
Espiritismo é uma doutrina aberta aos avanços científicos, portanto, as
transformações sociais, as mudanças no panorama dos conhecimentos gerais do
homem não as podem estagnar, não as podem fechar-se em um pétreo corpo
ortodoxo. A rigor a Internet é um foro de discussão, de ligação entre todos que
se dedicam ao estudo da doutrina, a pesquisa de suas novas fronteiras e a
aplicação dos conhecimentos já firmados. “A Internet elimina as barreiras
físicas e estabelece a ligação que permite que as notícias corram rapidamente o
mundo, que novas idéias sejam apresentadas e debatidas, que exemplos sejam
conhecidos e seguidos, que resultados sejam checados e validados. Nela estamos
todos próximos, todos em condição de conhecer o que se passa nos vários cantos
deste nosso mundo.”[5]
Óbvio que nessa nova tecnologia
de informação se corre o perigo de qualquer pessoa falar em nome do
Espiritismo, deturpando os seus conceitos, contudo problemas surgem em qualquer
veículo de difusão doutrinária. Por mais que "instituíssemos"
mecanismos de proteção, sempre haveria possibilidades de os ultrapassar. “Com
o tempo as pessoas vão saber distinguir o joio do trigo. Não devemos ter medo
da Internet, como a Inquisição teve medo dos livros. Tal como Kardec devemos
aprender a enfrentar as investidas, sempre com a intenção de procurar a verdade
e de esclarecer."[6][6]
Precisamos confiar na força da
mensagem virtual como meio poderoso de divulgação espírita. Cremos que em
poucos anos a Internet vai ser a maior via de intercâmbio do movimento espírita.
Por isso ,Kardec já mencionava que “dois elementos hão de
concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da
Doutrina e os meios de a popularizar."[7][7
“Desde a popularização do
rádio - inventado por Marconi, em 1895 e disseminado em grande parte do mundo
até as décadas de 30 e 40 -, da TV - por John Baird, 1925, e disseminada no
Brasil a partir dos anos 50 e da Internet, a partir da década de 90 – com a
criação dos sistemas de rede (web)- creditada a Tim Berners Lee-, o nível de
informação das pessoas aumentou
consideravelmente. Mesmo aqueles
considerados ignorantes na sociedade atual detêm um volume de informação muito
maior que há algumas décadas.”[8] Em termos espíritas, isso pode proporcionar um
aprofundamento sobre a Doutrina por parte daqueles que já se dizem adeptos e
também atrair outros que têm alguma informação sobre o caráter conceitual do
Espiritismo.
A Internet permitirá um contato
mais rico com a monumental obra espírita. Onde se é possível elaborar cursos
interativos, por exemplo, uma discussão da obra de André Luiz, apontando links[9]
relevantes entre os deferentes textos, e com comentários feitos por autores
reconhecidos.
Os livros de referência poderão
ser disponibilizados em hipertexto[10],
em versões de fácil consulta. Relatos específicos deverão ser colecionados e
indexados para pesquisa rápida. Tudo isso poderá ser feito, de forma totalmente
voluntária e colaborativa, usando para isso não apenas os recursos técnicos da
rede, mas também a sua estrutura social, que foge de todos os parâmetros
tradicionais.
Vai ser através da Internet que
vão ser possíveis os estímulos de fraternidade entre as diversas instituições
espíritas em nível mundial. “E é através da Internet que vai nascer um novo
momento para o movimento, a diretriz dada por Ismael: Se Paulo teve que
ir de cidade em cidade divulgar a boa nova, hoje a Providência dá-nos a
oportunidade de estarmos no conforto da nossa casa e espalhar a boa nova aos
quatro cantos do planeta.” [11]
Nosso irmão Divaldo expõe sua
emoção ante a Internet quando diz: "comovo-me diante deste excelente
recurso que diminui distância, ainda mais por sentir participando deste nosso
convívio alguns benfeitores espirituais que estão a todos nos envolvendo em
ondas de paz e vibrações de saúde, entre os quais os Espíritos Eurípedes
Barsanulfo, Cairbar Schutel, Joanna de Ângelis e Vinícius, igualmente felizes,
abençoando a tecnologia e a informática utilizadas para o bem"[12][12]
É importante ressaltar o problema
da credibilidade que poderá ser resolvido e atacado de inúmeras formas, seja
através da tecnologia, seja através da divulgação. Mas também é imperioso
refletir que: a ausência de informações claras da Doutrina Espírita na
Internet, abre sem dúvida, espaço para que outros tipos de informação enganosas
sejam espalhados pela rede. Este é um risco muito maior do que qualquer outro
que possa ser assumido através da livre publicação do material espírita. Nesse
tópico ressalte-se que é tecnicamente possível disponibilizar toda literatura
espírita em meios eletrônicos.
Diante disso, como garantir que o
material postado seja legítimo? Como evitar que surjam cópias falsas, ou apenas
mal editadas, por aí? Ambas as questões são importantes e relevantes, para que
possamos entender como aplicar a Internet corretamente ao ambiente espírita.
Neste caso, a vigília equilibrada é fundamental, para atingir uma abordagem
balanceada, que possa explorar plenamente a tecnologia que temos disponível, e
concomitantemente se proteja os objetivos maiores do trabalho que está sendo
desenvolvido em nome da Terceira Revelação.
FONTES DE REFERÊNCIA:
[2]Xavier, Francisco Cândido. Estude
e Viva, Ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. 40.
[3] Pierre Lévy – As tecnologias da
Inteligência - O futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora
34, 2004.
[4] Artigo de Sérgio e Carlos
Alberto Iglesia Bernardo. “Sobre o Espiritismo e a Internet”, publicado no
Boletim GEAE Número 280 de 17 de Fevereiro de 1998.
[5] Artigo de Carlos Alberto
Iglesia Bernardo. Espiritismo e a internet, publicado no Boletim GEAE
Número 282 de 3 de março de 1998.
[6] Entrevista de Sérgio Freitas.
Internet: O Centro Espírita Virtual, publicado na Revista de Espiritismo nº.
33 Outubro/Dezembro 1996. (Sérgio Freitas, licenciado em Engenharia Informática
pela Universidade Federal de Uberlândia, é Mestre em Ciência da
Computadorização pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre).
É colaborador do Centro Espírita Perdão e Caridade, de Lisboa).
[8] Ana Paula da Silva O Espiritismo
frente ao Homem da “Sociedade da Informação” Palestra apresentada no Instituto
de Cultura Espírita de Piracicaba (ICEP) em 23/10/03Jornalista; mestranda em
Jornalismo na ECA/USP.
[9] LINK: significa um acesso
eletrônico, seja por meio de imagens ou palavras, que permite a conexão a
outras telas de um mesmo Site.
[10] Poderíamos adotar como noção de
hipertexto assim, o conjunto de informações textuais, podendo estar combinadas
com imagens (animadas ou fixas) e sons, organizadas de forma a permitir uma
leitura (ou navegação) não linear, baseada em indexações e associações de
idéias e conceitos, sob a forma de links. Os links agem como portas virtuais
que abrem caminhos para outras informações.
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