"O Espiritismo respeita todas as religiões e doutrinas, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, independentemente de sua raça, cor, nacionalidade, crença, nível cultural ou social. Reconhece, ainda, que “o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”.

sábado, 30 de junho de 2012


Chico Xavier de sempre...


 Há dez anos – no dia 30 de junho – Francisco Cândido Xavier se desprendia do corpo físico. Completava uma existência de 92 anos e 75 de exemplificação nos labores espíritas.

Ante a história da vida e da obra mediúnica de Chico Xavier, não podemos nos absorver em questões tópicas, de curiosidade ou de informações pessoais. Sua obra majestosa e profícua assume dimensões de amplas perspectivas. Os livros psicográficos aí estão para serem lidos, estudados e ensejarem profundas reflexões.

As marcas da existência de dedicação ao bem e à paz são repositórios de iluminação para os caminhos a serem percorridos por todos aqueles que são tocados pela mensagem, pelo estímulo à renovação e ao aperfeiçoamento moral e espiritual. O homem simples e humilde, entre outros trabalhos significativos, psicografou a obra-prima Paulo e Estêvão no ambiente bucólico e pitoresco da Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo (MG), nos horários de pausa e de lazer do seu ambiente de trabalho profissional, com o beneplácito de seu chefe Rômulo Joviano. Hoje, a septuagenária obra é fonte de inspiração com base na epopeia dos primeiros tempos do Cristianismo e das figuras marcantes reverenciadas no título do livro. Entre muitas colocações oportunas de Emmanuel, destacamos a seguir alguns trechos que caracterizam a coerência e a maneira de ser do médium homenageado: Simplicidade, referindo-se à instituição de Antioquia:

“[...] Vivia-se ali num ambiente de simplicidade pura, sem qualquer preocupação com as disposições rigoristas do judaísmo. [...]”;

Mediunidade natural: “[...] A união de pensamentos em torno de um só objetivo dava ensejo a formosas manifestações de espiritualidade. [...]”;

Dedicação ao próximo:“[...] nossos serviços junto dos desfavorecidos da sorte, para que os seguidores do Evangelho, no futuro, não se arreceiem das situações mais difíceis e escabrosas [...]”.

Os romances históricos elaborados pelo Espírito Emmanuel permitem-nos a compreensão das lutas nos albores do Cristianismo e, na sequência de séculos, dos esforços dos cristãos. Graças à compreensão dessa longa trajetória passamos a entender a autoridade espiritual do orientador de Chico Xavier, legando-nos oito obras com comentários sobre o Novo Testamento, cinco delas editadas pela FEB, as quais compõem a Coleção Fonte Viva, a começar por Caminho, Verdade e Vida.As relações entre as dimensões corpórea e incorpórea são esmiuçadas na chamada “Série André Luiz” ensejando ilustrarem-se os ensinos contidos na Codificação Espírita. As ligações entre as humanidades encarnadas e desencarnadas são também evidenciadas em várias obras em forma de poemas e nas conhecidas “cartas familiares”, nas quais os Espíritos demonstram a seus parentes e amigos que sobrevivem à morte do corpo físico. A certeza da imortalidade da alma é fonte de consolo, de esclarecimento e de estímulo ao aperfeiçoamento moral e espiritual.


Nas manifestações públicas, entrevistas e diálogos, Chico se caracterizou pelo respeito, prudência e fidelidade a Jesus e a Kardec, desviando a atenção e o mérito sobre sua pessoa, direcionando-os ao mundo espiritual. No atendimento continuado aos carentes espirituais e socioeconômicos, Chico sempre levou a mensagem de carinho, consolo e alento. Testemunhamos inúmeros episódios marcantes. Entre estes, em visita que fizemos ao médium, durante a “peregrinação” de um sábado de novembro de 1983, os comentários tecidos em torno do trecho de O Evangelho segundo o Espiritismo (Ed. FEB, cap. VI, it. 1.):

Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração [...]. Depois dos comentários dos convidados, Chico concluiu: “Todos estamos sob o jugo da lei, mas o do Cristo é mais suave”, e concitou todos à paciência, à calma, à cooperação porque o amor e a caridade são imprescindíveis para a aceitação do jugo do Cristo.


Em 2010, foi concretizado o “Projeto Centenário de Chico Xavier”, de responsabilidade e com base em amplos estudos do Conselho Federativo Nacional da FEB, cujo objetivo foi enfatizar a obra de Chico Xavier e contribuir com a memória de sua atuação, respeitando sua privacidade pessoal e espiritual.


Cinco palavras-chaves foram tema da ampla divulgação, sintetizando a ação de Chico: espírito, saber, fé, amor e caridade. Mais de 600 eventos foram implementados em todo o País, com ampla difusão e repercussões nas várias modalidades de mídia. Mesmo depois de desencarnado, Chico Xavier e sua obra psicográfica foram instrumentos para a mais abrangente difusão do Espiritismo, o que permite considerar aquele período como o “Ano do Espiritismo”.


Os que conheceram e privaram da amizade com o médium entendem que hoje ele estaria próximo de todos os que desinteressadamente atuam na sementeira do amor, do bem e da paz. Parece-nos oportuna a manifestação de Chico Xavier, quando, completando 50 anos de labores mediúnicos, declarou humildemente a um jornal espírita: Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e preciso [...].



Antonio Cesar Perri de Carvalho

quinta-feira, 28 de junho de 2012


O supérfluo e o necessário

Uns queriam um emprego melhor;
outros, só um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta;
outros, só uma refeição.
Uns queriam uma vida mais amena;
outros, apenas viver.
Uns queriam pais mais esclarecidos;
outros, ter pais.

Uns queriam ter olhos claros; outros, enxergar.
Uns queriam ter voz bonita; outros, falar.
Uns queriam silêncio; outros, ouvir.
Uns queriam sapato novo; outros, ter pés.

Uns queriam um carro; outros, andar.
Uns queriam o supérfluo;
outros, apenas o necessário.

 Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior.
A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe e

 a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que não sabe.

Tenha a sabedoria superior.
Seja um eterno aprendiz na escola da vida.
A sabedoria superior tolera, a inferior julga;
a superior alivia, a inferior culpa;
a superior perdoa, a inferior condena.

Tem coisas que o coração
só fala para quem sabe escutar!

Que possamos estar sempre atentos aos sinais
e saber o que realmente se faz necessário.


_Chico Xavier_

terça-feira, 26 de junho de 2012

RESPONSABILIDADE  E  DESTINO


O Criador, que estabelece o bem de todos como lei para todas as criaturas, não cria Espírito algum para o exercício do mal.

A criatura, porém, na Terra ou fora da Terra, segundo o princípio de responsabilidade, ao transviar-se do bem, gera o mal por fecundação passageira de igno­rância que ela mesma, atendendo aos ditames da consciência, extirpará do próprio caminho, em tantas exis­tências de abençoada reparação quantas se fizerem in­dispensáveis.

Deus concede ao homem os agentes da nitroglice­rina e da areia e inspira-lhe a formação da dinamite, por substância explosiva capaz de auxiliá-lo na construção de estradas e moradias, mas o artífice do progresso, quase sempre, abusa do privilégio para arrasar ou ferir, adquirindo dividas clamorosas em sementeiras de ódio e destruição; empresta-lhe a morfina por alcaloide beneficente, a fim de acalmar-lhe a dor, entretanto, enfermo amparado, em muitas ocasiões escarnece do so­corro divino, transformando-o em corrosivo entorpecen­te das próprias forças, com que prejudica as funções de seu corpo espiritual em largas faixas de tempo; ga­lardoa-o com o ferro, por elemento químico flexível e tenaz, de modo a ajudá-lo na indústria e na arte, toda­via, o servo da experiência, em muitas circunstâncias, converte-o no instrumento da morte, a desajustar-se em compromissos escusos, que lhe reclamam agonia e suor, em séculos numerosos; dá-lhe o ouro por metal nobre, suscetível de enriquecer-lhe o trabalho e desenvolver-lhe a cultura, mas o mordomo da posse nele talha, frequen­temente, o grilhão de sovinice e miséria em que se ames­quinha a si mesmo; e confere-lhe a onda radiofônica para os serviços da verdadeira fraternidade entre os po­vos, mas o orientador do intercâmbio, por vezes, nela transmite notas macabras, em que promove o aniquila­mento de populações indefesas, agravando-se em débi­tos aflitivos para o futuro.

É assim que o Supremo Senhor nos cede os dons inefáveis da vida, como sejam as bênçãos do corpo e da alma e os tesouros do amor e da inteligência.

Do uso feliz ou infeliz de semelhantes talentos, re­sultam para nós vitória ou derrota, felicidade ou infor­túnio, saúde ou moléstia, harmonia ou desequilíbrio, avanço ou retardamento nos caminhos da evolução.

Examina, pois, a ti mesmo e encontrarás a exten­são e a natureza de tua dívida, pela prova que te pro­cura ou pela tentação que padeces, porque o bem verte, puro, de Deus, enquanto que o mal é obra que nos pertence — transitório fantasma de rebeldia e ilusão que criamos, ante as leis do destino, por conta própria.

Do cap. 34 do livro Religião dos Espíritos, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

sábado, 23 de junho de 2012



 PSICOPICTÓGRAFIA  - Pintura Mediúnica



Entrevista com  Adriano Calsone,  trabalhador espírita na cidade de São Caetano do Sul, SP, médium de psicografia e de pintura. Com vocação para as artes plásticas, Adriano estudou o tema  com profundidade, visando a publicação de um livro que abordasse a pintura mediúnica na visão espírita. 





Com surgiu a ideia de escrever o livro sobre Pintura Mediúnica na visão espirita?

Esta pesquisa nasceu, primeiramente, por causa da minha própria necessidade de desvendar a mediunidade de pintura. Na primeira vez que trabalhei como médium de pintura, o meu corpo todo entrou numa espécie de choque, e aí o dirigente do GEAM, na época o Sr. Afonso Moreira Jr., me disse que havia uma fila de espíritos aguardando para pintar por meu intermédio. Como eu estava iniciando a minha mediunidade, desconfiei daquilo tudo e, a cada trabalho, minhas dúvidas não paravam de aumentar. Foi então que, por conta própria, comecei a pesquisar tal mediunidade: comprei todos os livros disponíveis que se aproximavam do tema (que na época não passavam de meia dúzia); fui buscar em Kardec, relatos sobre desenhos e pinturas mediúnicos; entrevistei médiuns in loco, etc. Quando me deparei, havia reunido um grande volume de informações, organizando-as posteriormente por meio de perguntas e respostas. Aí decidi compartilhar isso com as pessoas, principalmente com os médiuns de pintura, surgindo, assim, a ideia de um livro.

Definitivamente, eu insisti nessa ideia de fazer um livro depois de ter notado, nas diversas apresentações de Pintura Mediúnica as quais participei em São Paulo, que as plateias nos abordavam com frequência, questionando sobre os bastidores desse trabalho. Fui percebendo também que os médiuns de pintura, incluindo os iniciantes, como eu na época, literalmente “se fechavam” em dúvidas e auto-questionamentos. Entendi então que um livro sobre o tema seria uma confluência benéfica de ajuda para essas pessoas.


Faça-nos por favor uma sinopse do livro.

O nosso livro Pintura Mediúnica – A Visão Espírita em Ampla Pesquisa veio à lume após cinco anos de estudos sobre o tema. Nesse período, concluí que a maioria dos espíritas pouco sabem o que é e o que realmente representa a Pintura Mediúnica para o Espiritismo. Assim, esta obra traz o resultado de uma extensa pesquisa sobre a modalidade mediúnica da pintura, desvendando particularidades de um trabalho essencial como qualquer outro da mediunidade espírita.

E para facilitar o estudo sobre o tema, o livro foi estruturado por meio de 150 perguntas e respostas, tendo como base as diversas obras da Doutrina Espírita, dos tempos de Allan Kardec (1857), aos dias de hoje. O leitor também poderá conferir entrevistas e depoimentos exclusivos com médiuns de pintura, além de uma pesquisa de campo e um experimento científico.

Num tempo em que a Pintura Mediúnica ainda é vista pelos próprios espiritistas com preconceito e aversão – um verdadeiro tabu no meio espírita –, diante do pouco conhecimento e falta de informação sobre o assunto, esta pesquisa procura lançar uma semente na terra produtiva do Espiritismo, esperando que o leitor possa colher seus frutos e fartar-se sob a luz da razão e do discernimento, com o dever de semear outros grãos para uma futura colheita.


Pode nos falar sobre a utilidade da Pintura Mediúnica?

A Pintura Mediúnica tem algumas utilidades. Acredito que a mais importante é a sua ação espiritual por meio das cores. Sabemos que há instrutores espirituais responsáveis por um trabalho bastante definido no campo da terapêutica, com a finalidade, por exemplo, de realizar pintura específica a uma determinada pessoa. Isso, chamamos de “pintura direcionada”, onde o arranjo de cores na tela terá uma ação direta em quem a receberá. Não me refiro à cura física, mas, principalmente, ao reequilíbrio mental deste indivíduo, pela influência direta da cromoterapia, bastante acessível num trabalho artístico de pintura.

Outra utilização se volta aos próprios espíritos. Amigos artistas que desencarnam em situações lastimáveis, os que abusaram de seus dons artísticos, assim que tomam consciência de seus atos na espiritualidade, necessitam desses grupos de médiuns de pintura para se recomporem e, consequentemente, precisam trabalhar com as pinturas mediúnicas para experienciarem uma renovação educacional no campo moral, ético e disciplinar, além de que as trocas energéticas com esses médiuns, – por meio do fluido animalizado desses últimos –, ajudam tais espíritos no refazimento perispiritual, aos que, assim, se faça necessário.

Por fim, uma Pintura Mediúnica quando afixada, indubitavelmente, proporciona harmonização no ambiente, além de positivar os espaços com temáticas espirituais.


Há pinturas divulgadas por Kardec?

Talvez o registro mais evidente e memorável que Allan Kardec publicou sobre o desenho mediúnico foi o da Cepa (ramo de parreira), expressada no capítulo Prolegômeros em O Livro dos Espíritos. Vejamos as recomendações dos Espíritos para Allan Kardec:

— Colocará no cabeçalho deste livro a cepa que te desenhamos. Ela é o emblema do trabalho do Criador. Aí estão reunidos todos os princípios materiais que representam melhor o corpo e o Espírito. O corpo é a cepa; o Espírito é o licor; a alma ou Espírito ligado à matéria é o bago. O homem purifica o Espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito conquista conhecimentos. São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito da Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc.


Quais os melhores trabalhos mediúnicos que você pesquisou?

Não digo os melhores, mas talvez o mais intrigante e sensacional de todos os tempos são os trabalhos autenticamente mediúnicos do operário francês, quase analfabeto, Augustin Lesage (1876-1954). Jorge Rizzini e sua esposa Iracema Sapucaia tiveram a honra de traduzir o livro O fantástico Lesage, de Marie-Cristine Vitor, pesquisa a qual muito me impressionou.
Na França, Rizzini e Iracema contemplaram pessoalmente quadros apoteóticos — de beleza irrepetível! — que os Espíritos produziram através desse fantástico e humilde médium Augustin Lesage. Sob o comando de seus guias espirituais, entre os quais Leonardo Da Vinci, sujeitava-se a todo tipo de prova. Pintou em estilo egípcio no Instituto Metapsíquico Internacional, em Paris, sob o controle do cientista E’ugene Osty, presidente da instituição. Uma das telas media dois metros de altura por um e meio de largura. O médium, em transe, colocou na tela milhares de miniaturas pintadas a óleo que só podiam ser bem analisadas através de uma lupa. Lesage, como observou um de seus críticos, pintava rapidamente “como se fosse uma máquina, com precisão, sem intermitência”. Presenciou o fenô­meno, entre outros, Charles Richet (detentor do Prêmio Nobel) e o físico inglês Sir Oliver Lodge (da Sociedade Real da Inglaterra).


Qual a opinião de artistas e críticos sobre as pinturas mediúnicas?

Em primeiro lugar, é muito difícil artistas e críticos de arte (não-espíritas), admitirem a presença do espiritual na arte, porque, infelizmente, muitos deles são materialistas e até ateus. A bem da verdade, pouquíssimos deles admitem que exista a espiritualidade. Quando o pintor e escritor russo Wassily Kandinsky, que não era espírita, lançou, em 1911, o célebre Do Espiritual na Arte, estudo que trouxe grande relação com o Espiritismo por lançar ideias espiritualistas sobre a Arte, ele foi vilipendiado por críticos, e pelos seus próprios amigos pintores da época.

Hoje, quando um pintor ou um crítico de arte é convidado para avaliar uma Pintura Mediúnica, eles logo dizem que a composição está longe de ser autêntica porque, além de malfeita e realizada às pressas, não é possível que se admita, para eles, que um espírito (do além), dito famoso, colaborou com o médium na realização da tela.

E para piorar de vez esta relação, o médium assina a pintura com um pomposo “Monet”, ou mesmo com um contundente “Van Gogh”, que muitas vezes toma quase metade da tela, sob o pretexto de que foi o próprio espírito pintor que desejou assim firmá-la. Em verdade, poucos são os médiuns que admitem que a assinatura partiu da vontade deles próprios, e não dos Espíritos. É fato que essas assinaturas em telas mediúnicas, na maioria das vezes, não são dos Espíritos famosos que as firmam, além delas muito instigarem a vaidade nos médiuns. Todavia, para não configurar falsas identidades, sugerimos que os médiuns não assinem as telas mediúnicas.

Sabemos que os ditos “pintores famosos” podem até se manifestar, mas não fazem questão alguma de deixar suas firmas. Lembrando também que muitos desses grandes mestres já reencarnaram.

O que frequentemente ocorre nessas apresentações, ou em reuniões fechadas, é a presença espiritual de grupos de pintores, muitos deles, espíritos estudantes/aprendizes de determinadas escolas artísticas, com as quais se propuseram a trabalhar na espiritualidade. Esses pintores astrais, acompanhados por instrutores, se apresentam em reuniões sérias para deixarem nas Pinturas Mediúnicas, e também nos médiuns, suas “impressões artísticas”, que podem estar na linha cubista, expressionista, impressionista, abstrata, ou numa escola completamente estranha, que não exista na Terra, por exemplo. Enfim, está mais do que na hora de nós médiuns assumirmos as responsabilidades deste trabalho!


As suas despedidas dos nossos leitores

É péssimo saber que ainda estamos muito longe de um ideal de discernimento deste trabalho, entre nós espiritistas, principalmente quando se dá a cara para bater, vivendo na pele, a experiência de ser um médium de pintura, como é o meu caso. Mas só o fato de termos a oportunidade, como nesta entrevista, de falar desses paradigmas e preconceitos, e comentá-los também nas casas espíritas, já configura um tipo de abertura ao bate-papo fraterno. É um sinal também de que essas monoideias têm o seu prazo de validade.

Quero deixar claro ao leitor que os nossos depoimentos aqui não tiveram como objetivo o de criar conceitos a serem seguidos, pois sabemos que as vivências mediúnicas nunca são iguais, muito menos estabelecer o que é certo ou o que está errado neste trabalho. O nosso propósito, inclusive com o livro, é o de abrir espaço para discussões, permutar ideias, reunir conhecimentos e, sobretudo, incentivar o desenvolvimento desta mediunidade nas casas espíritas, para que possamos melhor trabalhar e compreender os seus mecanismos.

Grato pela oportunidade! Fale com o autor, ou adquira o nosso livro pelo e-mail: pintura-mediunica@live.com.
Livro “Pintura Mediúnica - A Visão Espírita em Ampla Pesquisa”, de Adriano Calsone. Parte da renda obtida com a venda de nosso livro, será revertida ao Grupo Espírita de Trabalho Misail, a qual participo.

Adriano no lançamento do livro, com o apoio cultural da Prefeitura de São Caetano do Sul.


Grupo Espírita de Trabalho Misail. Mais informações pelo site: http://getm.org.br/.


A Cepa, desenhada pelos Espíritos a Kardec, se encontra no Prolegômenos de “O Livro dos Espíritos”. Um dos primeiros desenhos mediúnicos publicados na obra da Codificação.



Nos detalhes: o que aparentemente parecem borrões são, na verdade,
retratos (de costas) de entidades que tocam fogo em árvores.
Talvez, um protesto dos Espíritos contra o atual desmatamento em nosso País?
As “impressões” são mais importantes que as “assinaturas”. Não há a necessidade de saber qual o Espírito que a pintou.
Médium Adriano Calsone


Infelizmente, a Modelagem Mediúnica é um trabalho pouco conhecido e realizado no meio espírita. Considerada também uma das modalidades mediúnicas da Arte Espírita.
Médium Adriano Calsone

terça-feira, 19 de junho de 2012


 Mágoa - ferrugem perniciosa


Síndrome alarmante, de desequilibro, a presença da mágoa faculta a fixação de graves enfermidades físicas e psíquicas no organismo de quem a agasalha.

A mágoa pode ser comparada à ferrugem perniciosa que destrói o metal em que se origina.
Normalmente se instala nos redutos do amor-próprio ferido e paulatinamente se desdobra em seguro processo enfermiço, que termina por vitimar o hospedeiro.

De fácil combate, no início, pode ser expulsa mediante a oração singela e nobre, possuindo, todavia, o recurso de, em habitando os tecidos delicados do sentimento, desdobrar-se em modalidades várias, para sorrateiramente apossar-se de todos os departamentos da emotividade, engedrando cânceres morais irreversíveis. Ao seu lado, instala-se, quase sempre, a aversão, que estimulam o ódio, etapa grave do processo destrutivo.

A mágoa, não obstante desgovernar aquele que a vitaliza, emite verdadeiros dardos morbíficos que atingem outras vítimas incautas, aquelas que se fizeram as causadoras conscientes ou não do seu nascimento.

Borra sórdida, entorpece os canais por onde transita a esperança, impedindo-lhe o ministério consolador.

Hábil, disfarça-se, utilizando-se de argumentos bem urdidos para negar-se ao perdão ou fugir ao dever do esquecimento. Muitas distonias orgânicas são o resultado do veneno da mágoa, que, gerando altas cargas tóxicas sobre a maquinaria mental, produz desequilíbrio no mecanismo psíquico com lamentáveis conseqüências nos aparelhos circulatório, digestivo, nervoso…

O homem é, sem dúvida, o que vitaliza pelo pensamento. Sua idéias, suas aspirações constituem o campo vibratório no qual transita e em cujas fontes se nutre.

Estiolando os ideais e espalhando infundadas suspeitas, a mágoa consegue isolar o ressentido, impossibilitando a cooperação dos socorros externos, procedentes de outras pessoas.

Caça implacavelmente esses agentes inferiores, que conspiram contra a tua paz. O teu ofensor merece tua compaixão, nunca o teu revide.

Aquele que te persegue sofre desequilíbrios que ignoras e não é justo que te afundes, com ele, no fosso da sua animosidade.

Seja qual for a dificuldade que te impulsione à mágoa, reage, mediante a renovação de propósitos, não valorizando ofensas nem considerando ofensores.

Através do cultivo de pensamentos salutares, pairarás acima das viciações mentais que agasalham esses miasmas mortíferos que, infelizmente, se alastram pela Terra de hoje, pestilenciais, danosos, aniquiladores.

Incontáveis problemas que culminam em tragédias quotidianas são decorrência da mágoa, que virulenta se firmou, gerando o nefando comércio do sofrimento desnecessário.

Se já registras a modulação da fé raciocinada nos programas da renovação interior, apura aspirações e não te aflijas. Instado às paisagens inferiores, ascendo na direção do bem. Malsinado pela incompreensão, desculpa. Ferido nos melhores brios, perdoa.

Se meditares na transitoriedade do mal e na perenidade do bem, não terás outra opção, além daquela: amar e amar sempre, impedindo que a mágoa estabeleça nas fronteiras da tua vida as balizas da sua província infeliz.

“Quando estiveres orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que vosso Pai que está nos Céus, vos perdoe as vossas ofensas”. – Marcos: 11-25.

“Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isto, meus caros filhos, prova melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo”. – Cap.V – Item 20.

Franco, Divaldo P.. Da obra: Florações Evangélicas.

sábado, 16 de junho de 2012


CONCEITO ESPÍRITA DE EVOLUÇÃO

  
A teoria da evolução constitui-se hoje numa das grandes conquistas da humanidade. Seus princípios, lançados por Darwin há mais de 150 anos, permanecem atuais, ainda que suas concepções no campo da genética estejam ultrapassadas. Foi a formulação teórica mais influente e perene do século 19, maior do que a marxista e a kardecista. Nem as teorias de Freud, formuladas pouco tempo depois, foram tão influentes quanto a do naturalista inglês, que hoje divide com Wallace a primazia dessa tese genial.

As religiões monoteístas são as maiores inimigas do evolucionismo, pois ele derruba os principais dogmas sustentadores do seu edifício teológico. O criacionismo tenta juntar os cacos da teologia cristã através do design inteligente, de debates com cientistas adeptos do evolucionismo, da influência na política escolar, num confronto entre ateus e deístas. Kardec, que não era nem um pouco ingênuo, percebeu no evolucionismo uma teoria que veio para ficar, ainda que ela se chocasse com suas concepções lamarckianas acerca da origem da vida. Até o fim de sua existência ele foi adepto da teoria da geração espontânea, bem como da fenologia. Sustentou posições conservadoras em relação à mulher, à raça negra e aos movimentos políticos de esquerda. Isso não diminui o seu valor. Apenas demonstra que era um homem de seu tempo, sujeito aos condicionantes psicológicos, culturais e políticos como qualquer ser humano.

O espiritismo, assim como o budismo e o hinduísmo, para citar duas religiões bem conhecidas, não entra em confronto com as teses evolucionistas. Ao contrário, a teoria evolucionista é uma grande aliada, pois a filosofia espírita marcha lado a lado com a ciência, e passa ao largo do embate entre criacionistas e evolucionistas.

Todavia, o espiritismo, de certa forma, é criacionista pois admite que tudo começou pela intervenção, pela “vontade” de uma Inteligência Superior, mas também é evolucionista pois admite a continuidade evolutiva entre os animais e o homem. Trata-se de um paradoxo. Como é possível ser evolucionista e criacionista ao mesmo tempo?

O deísmo espírita não se choca com o evolucionismo. A ideia de Deus no espiritismo não é suficiente para ser tachado de criacionista, pois concilia criação e evolução, no dizer do escritor espírita Deolindo Amorim: “Não seria Deus, pela sua mão, o executor do trabalho, como se alguém, na condição de pessoa física, viesse tirar o homem brutal da caverna e colocá-lo na situação atual de um ser aperfeiçoado”. “Deus não força a evolução pois ela se realiza por leis adequadas dentro de condições próprias.”

Kardec afirmou por diversas vezes que as ideias espíritas são antigas e disseminadas em muitas culturas e religiões da antiguidade. Deus, espírito, reencarnação, imortalidade são conceitos existentes. A novidade é o tratamento experimental sob critérios científicos na observação minuciosa dos fenômenos medianímicos que até então eram considerados sobrenaturais e portanto inacessíveis à investigação científica. Nesse sentido, o estudo sistematizado e metodológico da mediunidade e o conceito espírita de evolução são duas novidades no campo do espiritualismo onde a filosofia espírita se insere.

O evolucionismo espírita é único, singular, original. Diferencia-se do hinduísmo porque descarta o karma, o fatalismo e a metempsicose. Distancia-se do evolucionismo monista e panteísta do filósofo espiritualista italiano Pietro Ubaldi e do conceito budista de nirvana, por supervalorizar o livre-arbítrio, a individualidade do ser humano, elevando-o à condição de artífice de seu próprio destino. Na concepção evolutiva do espiritismo, o espírito não perde jamais a sua individualidade, mesmo quando supera o estágio hominal e torna-se espírito puro. Ele não se integra ao todo como uma gota no oceano, deixando de ser espírito para retornar às origens, ao início de sua escalada evolutiva segundo o anacrônico conceito da queda espiritual.

Essa evolução se processa em dois mundos, no físico e no extrafísico, sem a primazia de nenhum deles. São apenas momentos na evolução, sujeitos ao tempo e ao espaço. Nesse aspecto, o evolucionismo espírita se diferencia também do evolucionismo roustainguista, que admite a queda do espírito e a evolução somente no mundo extrafísico, sem a necessidade da reencarnação.

A palingênese é o mecanismo evolutivo da vida imortal e perene. Encarnamos e reencarnamos porque existimos e não porque somos culpados ou sujeitos a algum tipo de queda espiritual como vemos na teologia cristã, no ubaldismo e no roustainguismo.

Conceitos semelhantes ao evolucionismo espírita iremos encontrar no pensamento do metapsiquista francês Gustave Geley e na filosofia céltica, analisada com muita propriedade pelo Druida de Lyon.

Na Revista Espírita, Kardec faz um interessante estudo intitulado O Espiritismo entre os Druidas, onde compara as ideias espíritas com a filosofia céltica, demonstrando as afinidades filosóficas entre ambas. A propósito, o nome Allan Kardec, segundo revelação do espírito Zéfiro, seu protetor, teria sido o nome de uma das encarnações de Rivail entre os druidas, na Bretanha, ao tempo de César. Essa informação se incorporou à cultura espírita através da tradição oral. Basta lembrar que o túmulo do fundador do espiritismo tem o formato de um dólmen, semelhante aos monumentos megalíticos onde os druidas celebravam os seus rituais de iniciação e de fertilidade.

As coincidências entre o celtismo e o espiritismo são admiráveis. No evolucionismo céltico a alma tem que atravessar três círculos evolutivos: Abred (existências corpóreas sujeitas ao determinismo biológico e palingenético), Gwenved (existência fora do determinismo, não há reencarnação) e Keugant. (espaço somente acessível ao Criador, ao Eterno É). O ser inicia sua trajetória a partir do Anufn (abismo), ponto de partida de todas as almas, cuja origem também é desconhecida. Como na filosofia espírita, não existe involução. Há uma marcha ascendente, contínua, até o ser tornar-se perfeito, pleno de sabedoria, de amor e felicidade. Mas isso seria tema para outros estudos...


Eugenio Lara é arquiteto e design gráfico. Coeditor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense], membro-fundador do CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, expositor do ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos e do Centro Espírita Allan Kardec, de Santos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012


ESPIRITISMO E ECOLOGIA


Os atuais meios de produção e de consumo precipitaram a humanidade na direção de um impasse civilizatório, onde a maximização dos lucros tem justificado o uso insustentável dos mananciais de água doce, a desertificação do solo, o aquecimento global, a monumental produção de lixo, entre outros efeitos colaterais de um modelo de desenvolvimento “ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”.

Na pergunta 705 do Livro dos Espíritos, no capítulo que versa sobre a Lei de Conservação, Allan Kardec pergunta: “Porque nem sempre a terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário?”, ao que a espiritualidade responde: “É que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas vezes, também, ele acusa a Natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se” (...).

É evidente que em uma sociedade de consumo, nenhum de nós se contenta apenas com o necessário. A publicidade se encarrega de despertar apetites vorazes de consumo do não necessário, daquilo que é supérfluo, descartável, inessencial – renovando a cada nova campanha a promessa de felicidade que advém da posse de mais um objeto, seja um novo modelo de celular, um carro ou uma roupa. Para nós espíritas, é fundamental que o alerta contra o consumismo seja entendido como uma dupla proteção: ao meio ambiente – que não suporta as crescentes demandas de matéria-prima e energia da sociedade de consumo, onde a natureza é vista como um grande e inesgotável supermercado – e ao nosso espírito imortal, já que, segundo a doutrina espírita, uma das características predominantes dos mundos inferiores da Criação é justamente a atração pela matéria. Nesse sentido, não há distinção entre consumismo e materialismo, e nossa invigilância poderá custar caro ao projeto evolutivo que desejamos encetar. Essa questão é tão crucial para o Espiritismo, que na pergunta 799 do Livro dos Espíritos, quando Kardec pergunta “de que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?”, a resposta é taxativa: “Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade.(...)”

Uma das mais prestigiadas organizações não governamentais do mundo, o Worldwatch Institute, com sede em Washington, divulga anualmente o relatório “Estado do Mundo”, uma grande compilação de dados e estudos científicos que revelam os estragos causados pelo atual modelo de desenvolvimento. Na última versão do relatório, referente ao ano de 2004, afirma-se que “o consumismo desenfreado é a maior ameaça à humanidade”.

Os pesquisadores do Worldwatch denunciam que “altos níveis de obesidade e dívidas pessoais, menos tempo livre e meio ambiente danificado são sinais de que o consumo excessivo está diminuindo a qualidade de vida de muitas pessoas”.

Aos que mantêm uma atitude comodista diante do cenário descrito nessas breves linhas, escorados talvez na premissa determinista de que tudo se resolverá quando se completar a transição da Terra (de mundo de expiações e de provas para mundo de regeneração) é bom lembrar do que disse Santo Agostinho no capítulo III do Evangelho Segundo o Espiritismo. Ao descrever o mundo de regeneração, Santo Agostinho diz que mesmo livre das paixões desordenadas, num clima de calma e repouso, a humanidade ainda estará sujeita “às vicissitudes de que não estão isentos senão os seres completamente desmaterializados; há ainda provas a suportar (...) e que “nesses mundos, o homem ainda é falível, e o Espírito do mal não perdeu, ali, completamente o seu império. Não avançar é recuar, e se não está firme no caminho do bem, pode voltar a cair nos mundos de expiação, onde o esperam novas e terríveis provas”. Ou seja, não há mágica no processo evolutivo: nós já somos os construtores do mundo de regeneração, e, se não corrigirmos o rumo na direção do desenvolvimento sustentável, prorrogaremos situações de desconforto já amplamente diagnosticadas.

Não é possível, portanto, esperar a chegada do mundo de regeneração de braços cruzados. Até porque, sem os devidos méritos evolutivos, boa parte de nós deverá retornar à esse mundo pelas portas da reencarnação. Se ainda quisermos encontrar aqui estoques razoáveis de água doce, ar puro, terra fértil, menos lixo e um clima estável – sem os flagelos previstos pela queima crescente de petróleo, gás e carvão que agravam o efeito estufa – deveremos agir agora, sem perda de tempo.

E nós? O que fizemos, ou o que pretendemos fazer? O grande Mahatma Gandhi – que afirmou certa vez que toda bela mensagem do cristianismo poderia ser resumida no sermão da montanha – nos serve de exemplo, quando diz: “sejamos nós a mudança que nós queremos ver no mundo”.



André Trigueiro* é espírita desde 1987, editor-chefe do programa semanal Cidades e Soluções (Globo News) e comentarista da Rádio CBN (860 Kwz), jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental, criador e professor do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, palestrante espírita e autor de vários livros, lançou recentemente, na Bienal do Rio pela FEB, o livro Espiritismo e Ecologia.

terça-feira, 12 de junho de 2012

ESPINHOS 


Todos conhecemos um sábio provérbio que diz: não há rosas sem espinhos.

A comparação é interessante, pois, sendo bela, a rosa representa as conquistas sublimadas do ser imortal, e os espinhos são os riscos que corremos e os obstáculos que encontramos em nossa caminhada evolutiva.

Objetivando a reflexão, nos termos que a abençoada Doutrina Espírita nos oferece, perguntaríamos: se a rosa tem espinhos, estamos desobrigados quanto a sua colheita? Se nossa evolução apresenta obstáculos, estarÍamos autorizados por Deus a não trilhá-la?

E como complemento, usaremos as palavras de Jesus citadas pelo evangelista Lucas (6 : 44): “Nem vindimam (cachos de) uva da sarça”. Reflitamos: se as sarças não produzem uvas, devemos cruzar os braços e permitir que as mesmas se alastrem pelo campo?

Segundo as respostas do Espírito da Verdade (“O Livro dos Espíritos” – “Das Leis Morais”) o campo deve ser cultivado, se almejamos colheita proveitosa. Portanto, se as sarças não produzem uvas, é nossa obrigação arrancá-la e realizar novo plantio!

No contexto bíblico, as palavras de Jesus citadas acima foram usadas no sentido de conhecermos a árvore pelos seus frutos. Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo” também usa essa referência, para nos mostrar que pelas obras se conhece o trabalhador.

Pensando nesse sentido, podemos refletir: será que as pessoas têm condições de render aquilo que delas esperamos? Muitas vezes, o pouco que fazem, nas mais variadas situações, está próximo do seu máximo… E o fruto que almejamos está acima da capacidade momentânea da árvore...

Nossa intervenção, segundo o Espiritismo, deve ser a de fomentar a sua produção, através da irrigação, poda, adubação, pulverização… Caso identifiquemos, na jornada espírita, irmãos que pouco rendem à doutrina e ao Evangelho, sejamos bondosos ao ponto de não exigirmos delas aquilo que não podem oferecer, mas estimulemos o seu crescimento, para que melhorem sua produtividade.

No livro “Caminho, Verdade e Vida”, Emmanuel nos trás uma pergunta interessante, refletindo sobre o mesmo versículo escrito por Lucas:

- “… Teria Jesus assumido a paternidade de semelhante assertiva, para que cruzemos os braços em falsa beatitude?”

Seria correto, ao identificarmos um irmão menos interessado na seara do Cristo, simplesmente ignorá-lo? Se fôssemos nós esse irmão desinteressado (segundo os critérios dos Espíritos superiores), agradar-nos-ia se esses irmãos maiores nos ignorassem?

Colhamos as rosas do amor e do conhecimento, sem nos amedrontarmos perante os espinhos da ignorância, do orgulho e do egoísmo.

Fórum Espírita

sábado, 9 de junho de 2012

Liszt Rangel de Miranda Coelho:

 
“Jesus é um grande desconhecido e sua mensagem ainda nos
é ignorada”
 

Apaixonado por História Antiga e Medieval, o confrade e
jornalista pernambucano fala sobre suas pesquisas
acerca de Jesus e seus ensinamentos


Liszt Rangel de Miranda Coelho (foto), jornalista e estudante de Psicologia, nasceu e reside em Recife-PE, e vem se especializando na pesquisa de civilizações antigas. Palestrante espírita há 18 anos, 7 livros publicados – dois deles mediúnicos e esgotados –, colaborou ativamente na fundação e manutenção de alguns centros espíritas de Olinda e Recife, entre eles o Grupo Espírita Júlio César e a Liga Espírita de Pernambuco. É atual dirigente da nascente Sociedade de Estudos Espíritas do Recife. 




De onde o gosto pelas civilizações antigas?   E  o  que, em sua opinião,

mais lhe acrescentou, em suas atividades profissionais e doutrinárias, esse gosto pela pesquisa do tema? 

Sempre fui apaixonado por História Antiga e Medieval. A minha formação em jornalismo me possibilitou transitar com questionamentos livres estas áreas do conhecimento. Quando me recordo dos livros do Sr. Ernesto Bozzano acerca dos povos primitivos e do extraordinário Hermínio de Miranda sobre o Cristianismo Primitivo, que comecei a ler quando ainda era um adolescente, não tenho como negar-lhes esta influência. Ao mesmo tempo, sou uma alma inquieta e questionadora. Quando, então, ligamos o ontem ao hoje, podemos até nos compreender melhor. 


Como situar a pesquisa pela cultura e civilizações antigas, com o pensamento de Jesus e com o próprio advento da Doutrina Espírita? 

Quando falamos de nossas pesquisas, podemos fazer conexões mais acertadas entre a História Antiga e a sociedade em que viveu Jesus, (ou como gosto de chamá-lo em seu nome original, Yehoshú'a) dominada por Roma. Jesus apesar de galileu foi influenciado pelo judaísmo e era praticante desta religião. O pensamento judaico por sua vez foi estruturado na mitologia e nas leis egípcias. Quando vou para a Medieval abre-se um leque de informações na estrutura não só do Cristianismo, mas também no nascimento do Protestantismo, e dos fatos que colaboraram para o surgimento da Ciência Positivista, da Revolução Francesa, do Imperialismo Napoleônico, fatos estes que antecederam à Doutrina Espírita. 


E por que a ligação entre a psicologia, a psiquiatria e as civilizações antigas? 

É possível com estas ciências passarmos a entender melhor o comportamento de certos líderes como Júlio César, Augusto, o perturbado Tibério, que por sinal foi o responsável por introduzir Calígula nas perversões sexuais sendo seu tutor, a inteligência político-administrativa e a sociopatia de Nero que soube aproveitar a propaganda contra os cristãos, que era antiga, para culpá-los pelo incêndio em Roma. E quando partimos para entender o discurso de Jesus, vemos um indivíduo altamente conectado com todos estes processos culturais que não só o seu povo sofreu, mas os gauleses, os bretões, os bárbaros, e quando estudo o Império romano sou levado a compreender o movimento dos cristãos. No entanto, faço um alerta: não é possível entender Jesus pela psicologia, sem antes descobrirmos o Jesus Histórico.


Como essa ligação influi no progresso do pensamento e do movimento espírita? 

Os Espíritos asseveraram em O Livro dos Espíritos "que o Espiritismo tomaria lugar nos conhecimentos humanos". Não disseram que tomaria o lugar de..., mas que também teria seu espaço (cuidado com a fanatização). O Homem que não conhece seu passado, não sabe o valor de seu presente e não pode vivê-lo em profundidade, bem como jamais compreenderá que também estamos fazendo a História. Como nos frisou bem o Sr. Kardec: "No dia em que a ciência mostrar que o Espiritismo está errado em um ponto, deixe a Doutrina neste ponto e siga com a ciência". O Espiritismo é progressista e não há como isolá-lo como uma seita por causa de nosso limite de compreensão.


Como tem sentido o movimento espírita em relação a tais abordagens? 

Nós, que temos o Espiritismo como filosofia de vida, compreendemos que todo bom e sincero espírita, mesmo carregado de imperfeições, é um filósofo, quando não, o Espiritismo o torna ao menos um questionador. Estes espíritas compreendem muito bem o objetivo de nossas pesquisas, porém, como ainda temos os paradigmas intelectivos engessados pelas crenças católicas, outros acham que redescobrir Jesus é inútil, mas eu os compreendo: eles estão com medo, como também já tive um dia, de descobrir que o que acreditamos pode estar errado e mais: que alguns Espíritos podem ter colocado, em suas informações, opiniões pessoais e por isto estas colocações estão ultrapassadas pela Arqueologia e pela História.


E as pesquisas sobre Jesus, historicamente considerado? 
  
Jesus é um grande desconhecido e sua mensagem ainda nos é ignorada. Recentemente, alguns exegetas ao lado de historiadores e críticos textuais revelaram, após 12 anos de pesquisas, que de tudo o que há nos Evangelhos como mensagem atribuída a Jesus e fatos que o envolveram, menos de 10% é realmente do homem de Nazaré. Então, como seguir um homem que desconhecemos e uma mensagem que em sua maior parte nunca foi dele? Não estaria aí também uma das causas para a dificuldade de vivenciarmos esta mensagem? 


Dessas pesquisas todas, a que conclusão você chega no estágio atual em que se encontram? 

Jesus, hoje em dia, não está mais nos círculos religiosos. Aliás, acredito que ele nunca esteve. O homem de Nazaré está sendo estudado em grandes Universidades e, aos que ainda hoje acreditam que ele não passou de uma lenda, tenho que dar-lhes esta notícia: "Ele existiu! Não foi o que disseram dele; às vezes foi menos, outras foi mais". Quando falei no Cairo, Egito, para 62 jovens estudantes acerca do Jesus Histórico, um deles me disse: "Nós sempre admiramos Jesus, mas nunca entendemos como ele foi usado para guerra. Este Jesus histórico que conhecemos hoje não está na Bíblia dos cristãos". 


Suas palestras, repletas de conhecimento e intensa motivação ao ouvinte, geram intenso interesse do público. Como tem sentido as principais necessidades e reações do ser humano diante dos desafios de crescimento intelecto-moral? 

Olhar para si mesmo, primeiro. Depois desconstruir muitas crenças centrais que nos prendem à culpa que por várias vezes nem tínhamos, mas deixamos que o outro ou que a religião nos desse. Ainda percebo uma grande procura por necessidade de paz íntima, mas a estamos procurando na autoajuda superficial, quando não na ideia fixa da obsessão ou nas ilusões de uma paz estática, sem dor a enfrentar, sem dívidas a pagar e com direito a todo gozo pleno. Plenitude é uma ilusão também! Viver é um risco. Dar certo ou dar errado, além de viver, é ter experiência e isto tem valor, nos faz diferentes! 


E a experiência com o MIEP? 

Foi uma ótima experiência. Aprendi muito no contato intelectivo ou simplesmente afetivo com outros companheiros. Aliás, tenho sentido falta de afeto no movimento, sinto sede de uma fraternidade, a mesma sonhada por Kardec, que, segundo ele, nos definiria como membros de uma família espírita. Sentimos fraternidade e atenção no MIEP. (1) 


Algo mais que gostaria de acrescentar? 

Sim, eu gostaria de dizer que é gratificante participar de uma edição de O Consolador. Desejo esclarecer que, quando procuramos por Jesus, também tivemos medo do que iríamos descobrir, mas a busca foi mais forte. Este homem vale a pena o esforço por procurá-lo. Estou concluindo que para reencontrá-lo precisamos ser menos cristãos e mais adeptos do seu pensamento livre. 

(1) MIEP - Movimento de Integração Espírita Paraibano.