"O Espiritismo respeita todas as religiões e doutrinas, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, independentemente de sua raça, cor, nacionalidade, crença, nível cultural ou social. Reconhece, ainda, que “o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”.

sábado, 27 de outubro de 2012



O Santo Milagroso


Sabe quem foi Fernando Martins de Bulhões, amigo leitor? Não? E se eu disser Santo Antônio de Pádua?

Ambos são a mesma pessoa. Adotando o nome de Antônio, em seu noviciado, Fernando consagrou-se como um dos vultos mais amados do movimento cristão no século XII.

Como ocorre com relatos medievais, sua biografia está repleta de fatos curiosos, em que é difícil separar a fantasia da realidade.

Tal ocorreu, certa feita, quando Antônio conversava com um herege convicto que, não obstante sua vocação para negação, sensibilizou-se com a argumentação do santo e, sobretudo, como acontecia frequentemente, com seu carisma.

Em dado momento, em derradeira resistência nas suas convicções materialistas, o homem propôs um desafio:

- Amarrarei uma de minhas bestas e a deixarei passar fome por três dias. Depois a soltarei e colocarei o alimento à sua frente. O senhor ficará ao lado, com suas hóstias. Se a besta der preferência a elas, imediatamente  me converterei a sua fé.

Antônio aceitou o desafio. O encontro foi marcado numa praça e atraiu uma multidão de curiosos.

Santo Antônio trazia o ostensório, um recipiente onde ficam depositadas as hóstias.

O herege apresentou-se com a mula esfomeada e o alimento que lhe seria oferecido.

Após pedir silêncio, o santo virou-se para a mula e a convidou a render homenagens ao Criador.

Ante o assombro geral, o animal, rejeitando o alimento, aproximou-se imediatamente da hóstia e dobrou reverentemente as patas dianteiras.

Ante o inusitado da cena, o herege, demonstrando que era sincero, fez uma profissão de fé diante da multidão, convertendo-se num dos mais dedicados cooperadores de Santo Antônio.

Outro episódio marcante – o mais famoso envolvendo as experiências de Santo Antônio -, diz respeito ao fenômeno da bilocação, em que o espírito afasta-se do corpo e materializa-se alhures, passando a ser visto em dois lugares ao mesmo tempo.

Ele fazia uma pregação em Pádua, quando sofreu aparente desmaio.

Instantes depois era visto num tribunal, em Lisboa, a 800 quilômetros para defender seu pai de um crime que não acontecera.

Reza a tradição que, materializado, Antônio fez que o cadáver do assassinado ressuscitar por instantes para, diante dos juízes, que compareceram ao cemitério, atestar a inocência do seu pai.

Após a intervenção decisiva, o Santo desapareceu em Lisboa e acordou em Pádua.

Eliminando fantasiosos exageros,como a genuflexão da besta e a ressurreição momentânea, histórias desse teor foram suficientemente registradas e testemunhadas.

- Milagres! – Proclamará o religioso, encerrando o assunto, situando-o nos domínios do insondável.

Isso não acontece com o Espiritismo.

Os mentores espirituais que orientavam Allan Kardec na formação da Doutrina Espírita deixavam bem claro que a admissão do maravilhoso, do sobrenatural, do milagroso, exprime uma acomodação intelectual de pessoas esquecidas de que a religião não pode renunciar ao exercício da razão, sob pena de cair na fantasia.

Grandes vultos das religiões tradicionais, como Antônio de Pádua, que realizavam autênticos prodígios, aparentemente derrogando as leis naturais, foram simplesmente médiuns, que exercitavam poderes desconhecidos pelo homem comum, mas que não tem nada em comum com supostos milagres.

Imagine, leitor amigo, se, com uma grande quantidade de antibióticos, entrássemos numa máquina do tempo e nos transportássemos para o século XIV, em plena expansão da peste bubônica que, calcula-se,dizimou perto de 75 milhões de pessoas na Europa, um terço da população.

Com aqueles medicamentos salvaríamos milhões de pessoas. Um milagre para o homem daquele tempo, algo natural para o nosso tempo.

É importante que aprendamos a definir bem a natureza dos fenômenos mediúnicos que regem o relacionamento entre Espíritos encarnados e desencarnados,em situações como vivenciadas por Antônio de Pádua, afim de que a nossa crença tenha um alicerce sólido, como proclamava Allan Kardec:

“Fé inabalável só é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade.”

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