O
Santo Milagroso
Sabe
quem foi Fernando Martins de Bulhões, amigo leitor? Não? E se eu disser Santo
Antônio de Pádua?
Ambos
são a mesma pessoa. Adotando o nome de Antônio, em seu noviciado, Fernando
consagrou-se como um dos vultos mais amados do movimento cristão no século XII.
Como
ocorre com relatos medievais, sua biografia está repleta de fatos curiosos, em
que é difícil separar a fantasia da realidade.
Tal
ocorreu, certa feita, quando Antônio conversava com um herege convicto que, não
obstante sua vocação para negação, sensibilizou-se com a argumentação do santo
e, sobretudo, como acontecia frequentemente, com seu carisma.
Em
dado momento, em derradeira resistência nas suas convicções materialistas, o
homem propôs um desafio:
-
Amarrarei uma de minhas bestas e a deixarei passar fome por três dias. Depois a
soltarei e colocarei o alimento à sua frente. O senhor ficará ao lado, com suas
hóstias. Se a besta der preferência a elas, imediatamente me converterei a sua fé.
Antônio
aceitou o desafio. O encontro foi marcado numa praça e atraiu uma multidão de
curiosos.
Santo
Antônio trazia o ostensório, um recipiente onde ficam depositadas as hóstias.
O
herege apresentou-se com a mula esfomeada e o alimento que lhe seria oferecido.
Após
pedir silêncio, o santo virou-se para a mula e a convidou a render homenagens
ao Criador.
Ante
o assombro geral, o animal, rejeitando o alimento, aproximou-se imediatamente
da hóstia e dobrou reverentemente as patas dianteiras.
Ante
o inusitado da cena, o herege, demonstrando que era sincero, fez uma profissão
de fé diante da multidão, convertendo-se num dos mais dedicados cooperadores de
Santo Antônio.
Outro
episódio marcante – o mais famoso envolvendo as experiências de Santo Antônio -,
diz respeito ao fenômeno da bilocação, em que o espírito afasta-se do corpo e
materializa-se alhures, passando a ser visto em dois lugares ao mesmo tempo.
Ele
fazia uma pregação em Pádua, quando sofreu aparente desmaio.
Instantes
depois era visto num tribunal, em Lisboa, a 800 quilômetros para defender seu
pai de um crime que não acontecera.
Reza
a tradição que, materializado, Antônio fez que o cadáver do assassinado ressuscitar
por instantes para, diante dos juízes, que compareceram ao cemitério, atestar a
inocência do seu pai.
Após
a intervenção decisiva, o Santo desapareceu em Lisboa e acordou em Pádua.
Eliminando
fantasiosos exageros,como a genuflexão da besta e a ressurreição momentânea,
histórias desse teor foram suficientemente registradas e testemunhadas.
-
Milagres! – Proclamará o religioso, encerrando o assunto, situando-o nos
domínios do insondável.
Isso
não acontece com o Espiritismo.
Os
mentores espirituais que orientavam Allan Kardec na formação da Doutrina
Espírita deixavam bem claro que a admissão do maravilhoso, do sobrenatural, do
milagroso, exprime uma acomodação intelectual de pessoas esquecidas de que a
religião não pode renunciar ao exercício da razão, sob pena de cair na
fantasia.
Grandes
vultos das religiões tradicionais, como Antônio de Pádua, que realizavam
autênticos prodígios, aparentemente derrogando as leis naturais, foram
simplesmente médiuns, que exercitavam poderes desconhecidos pelo homem comum,
mas que não tem nada em comum com supostos milagres.
Imagine,
leitor amigo, se, com uma grande quantidade de antibióticos, entrássemos numa
máquina do tempo e nos transportássemos para o século XIV, em plena expansão da
peste bubônica que, calcula-se,dizimou perto de 75 milhões de pessoas na
Europa, um terço da população.
Com
aqueles medicamentos salvaríamos milhões de pessoas. Um milagre para o homem
daquele tempo, algo natural para o nosso tempo.
É
importante que aprendamos a definir bem a natureza dos fenômenos mediúnicos que
regem o relacionamento entre Espíritos encarnados e desencarnados,em situações
como vivenciadas por Antônio de Pádua, afim de que a nossa crença tenha um
alicerce sólido, como proclamava Allan Kardec:
“Fé inabalável só é a
que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade.”
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