PSICOPICTÓGRAFIA - Pintura Mediúnica
Entrevista com Adriano Calsone, trabalhador espírita na cidade de São Caetano do Sul, SP, médium de psicografia e de pintura. Com vocação para as artes plásticas, Adriano estudou o tema com profundidade, visando a publicação
de um livro que abordasse a pintura mediúnica na visão espírita.
Com
surgiu a ideia de escrever o livro sobre Pintura Mediúnica na visão espirita?
Esta pesquisa nasceu, primeiramente, por causa da minha própria
necessidade de desvendar a mediunidade de pintura. Na primeira vez que
trabalhei como médium de pintura, o meu corpo todo entrou numa espécie de
choque, e aí o dirigente do GEAM, na época o Sr. Afonso Moreira Jr., me disse
que havia uma fila de espíritos aguardando para pintar por meu intermédio. Como
eu estava iniciando a minha mediunidade, desconfiei daquilo tudo e, a cada
trabalho, minhas dúvidas não paravam de aumentar. Foi então que, por conta
própria, comecei a pesquisar tal mediunidade: comprei todos os livros
disponíveis que se aproximavam do tema (que na época não passavam de meia
dúzia); fui buscar em Kardec, relatos sobre desenhos e pinturas mediúnicos;
entrevistei médiuns in loco, etc. Quando me deparei, havia
reunido um grande volume de informações, organizando-as posteriormente por meio
de perguntas e respostas. Aí decidi compartilhar isso com as pessoas,
principalmente com os médiuns de pintura, surgindo, assim, a ideia de um livro.
Definitivamente, eu insisti nessa ideia de fazer um livro depois de ter
notado, nas diversas apresentações de Pintura Mediúnica as quais participei em
São Paulo, que as plateias nos abordavam com frequência, questionando sobre os
bastidores desse trabalho. Fui percebendo também que os médiuns de pintura,
incluindo os iniciantes, como eu na época, literalmente “se fechavam” em
dúvidas e auto-questionamentos. Entendi então que um livro sobre o tema seria
uma confluência benéfica de ajuda para essas pessoas.
Faça-nos
por favor uma sinopse do livro.
O nosso livro Pintura Mediúnica – A Visão Espírita em Ampla Pesquisa
veio à lume após cinco anos de estudos sobre o tema. Nesse período, concluí que
a maioria dos espíritas pouco sabem o que é e o que realmente representa a
Pintura Mediúnica para o Espiritismo. Assim, esta obra traz o resultado de uma
extensa pesquisa sobre a modalidade mediúnica da pintura, desvendando
particularidades de um trabalho essencial como qualquer outro da mediunidade
espírita.
E para facilitar o estudo sobre o tema, o livro foi estruturado por meio
de 150 perguntas e respostas, tendo como base as diversas obras da Doutrina
Espírita, dos tempos de Allan Kardec (1857), aos dias de hoje. O leitor também
poderá conferir entrevistas e depoimentos exclusivos com médiuns de pintura,
além de uma pesquisa de campo e um experimento científico.
Num tempo em que a Pintura Mediúnica ainda é vista pelos próprios
espiritistas com preconceito e aversão – um verdadeiro tabu no meio espírita –,
diante do pouco conhecimento e falta de informação sobre o assunto, esta
pesquisa procura lançar uma semente na terra produtiva do Espiritismo,
esperando que o leitor possa colher seus frutos e fartar-se sob a luz da razão
e do discernimento, com o dever de semear outros grãos para uma futura
colheita.
Pode
nos falar sobre a utilidade da Pintura Mediúnica?
A Pintura Mediúnica tem algumas utilidades. Acredito que a mais
importante é a sua ação espiritual por meio das cores. Sabemos que há instrutores
espirituais responsáveis por um trabalho bastante definido no campo da
terapêutica, com a finalidade, por exemplo, de realizar pintura específica a
uma determinada pessoa. Isso, chamamos de “pintura direcionada”, onde o arranjo
de cores na tela terá uma ação direta em quem a receberá. Não me refiro à cura
física, mas, principalmente, ao reequilíbrio mental deste indivíduo, pela
influência direta da cromoterapia, bastante acessível num trabalho artístico de
pintura.
Outra utilização se volta aos próprios espíritos. Amigos artistas que
desencarnam em situações lastimáveis, os que abusaram de seus dons artísticos,
assim que tomam consciência de seus atos na espiritualidade, necessitam desses
grupos de médiuns de pintura para se recomporem e, consequentemente, precisam
trabalhar com as pinturas mediúnicas para experienciarem uma renovação
educacional no campo moral, ético e disciplinar, além de que as trocas
energéticas com esses médiuns, – por meio do fluido animalizado desses últimos
–, ajudam tais espíritos no refazimento perispiritual, aos que, assim, se faça
necessário.
Por fim, uma Pintura Mediúnica quando afixada, indubitavelmente,
proporciona harmonização no ambiente, além de positivar os espaços com
temáticas espirituais.
Há
pinturas divulgadas por Kardec?
Talvez o registro mais evidente e memorável que Allan Kardec publicou
sobre o desenho mediúnico foi o da Cepa (ramo de parreira), expressada no
capítulo Prolegômeros em O Livro dos Espíritos. Vejamos as
recomendações dos Espíritos para Allan Kardec:
— Colocará no cabeçalho deste livro a cepa que te desenhamos. Ela é o
emblema do trabalho do Criador. Aí estão reunidos todos os princípios materiais
que representam melhor o corpo e o Espírito. O corpo é a cepa; o Espírito é o licor; a alma ou Espírito ligado à
matéria é o bago. O homem purifica o Espírito pelo trabalho e tu sabes que só
mediante o trabalho do corpo o Espírito conquista conhecimentos. São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O
Espírito da Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc.
Quais
os melhores trabalhos mediúnicos que você pesquisou?
Não digo os melhores, mas talvez o mais intrigante e sensacional de
todos os tempos são os trabalhos autenticamente mediúnicos do operário francês,
quase analfabeto, Augustin Lesage (1876-1954). Jorge Rizzini e sua esposa
Iracema Sapucaia tiveram a honra de traduzir o livro O fantástico
Lesage, de Marie-Cristine Vitor, pesquisa a qual muito me impressionou.
Na França, Rizzini e Iracema contemplaram pessoalmente quadros
apoteóticos — de beleza irrepetível! — que os Espíritos produziram através
desse fantástico e humilde médium Augustin Lesage. Sob o comando de seus guias
espirituais, entre os quais Leonardo Da Vinci, sujeitava-se a todo tipo de
prova. Pintou em estilo egípcio no Instituto Metapsíquico Internacional,
em Paris, sob o controle do cientista E’ugene Osty, presidente da instituição.
Uma das telas media dois metros de altura por um e meio de largura. O médium,
em transe, colocou na tela milhares de miniaturas pintadas a óleo que só podiam
ser bem analisadas através de uma lupa. Lesage, como observou um de seus
críticos, pintava rapidamente “como se fosse uma máquina, com precisão, sem
intermitência”. Presenciou o fenômeno, entre outros, Charles Richet (detentor
do Prêmio Nobel) e o físico inglês Sir Oliver Lodge (da Sociedade Real da
Inglaterra).
Qual
a opinião de artistas e críticos sobre as pinturas mediúnicas?
Em primeiro lugar, é muito difícil artistas e críticos de arte (não-espíritas),
admitirem a presença do espiritual na arte, porque, infelizmente, muitos deles
são materialistas e até ateus. A bem da verdade, pouquíssimos deles admitem que
exista a espiritualidade. Quando o pintor e escritor russo Wassily Kandinsky, que
não era espírita, lançou, em 1911, o célebre Do Espiritual na Arte,
estudo que trouxe grande relação com o Espiritismo por lançar ideias
espiritualistas sobre a Arte, ele foi vilipendiado por críticos, e pelos seus
próprios amigos pintores da época.
Hoje, quando um pintor ou um crítico de arte é convidado para avaliar
uma Pintura Mediúnica, eles logo dizem que a composição está longe de ser
autêntica porque, além de malfeita e realizada às pressas, não é possível que
se admita, para eles, que um espírito (do além), dito famoso, colaborou com o
médium na realização da tela.
E para piorar de vez esta relação, o médium assina a pintura com um
pomposo “Monet”, ou mesmo com um contundente “Van Gogh”, que muitas vezes toma
quase metade da tela, sob o pretexto de que foi o próprio espírito pintor que
desejou assim firmá-la. Em verdade, poucos são os médiuns que admitem que a
assinatura partiu da vontade deles próprios, e não dos Espíritos. É fato que
essas assinaturas em telas mediúnicas, na maioria das vezes, não são dos
Espíritos famosos que as firmam, além delas muito instigarem a vaidade nos
médiuns. Todavia, para não configurar falsas identidades, sugerimos que os
médiuns não assinem as telas mediúnicas.
Sabemos que os ditos “pintores famosos” podem até se manifestar, mas não
fazem questão alguma de deixar suas firmas. Lembrando também que muitos desses
grandes mestres já reencarnaram.
O que frequentemente ocorre nessas apresentações, ou em reuniões
fechadas, é a presença espiritual de grupos de pintores, muitos deles,
espíritos estudantes/aprendizes de determinadas escolas artísticas, com as
quais se propuseram a trabalhar na espiritualidade. Esses pintores astrais,
acompanhados por instrutores, se apresentam em reuniões sérias para deixarem
nas Pinturas Mediúnicas, e também nos médiuns, suas “impressões artísticas”,
que podem estar na linha cubista, expressionista, impressionista, abstrata, ou
numa escola completamente estranha, que não exista na Terra, por exemplo.
Enfim, está mais do que na hora de nós médiuns assumirmos as responsabilidades
deste trabalho!
As
suas despedidas dos nossos leitores
É péssimo saber que ainda estamos muito longe de um ideal de
discernimento deste trabalho, entre nós espiritistas, principalmente quando se
dá a cara para bater, vivendo na pele, a experiência de ser um médium de
pintura, como é o meu caso. Mas só o fato de termos a oportunidade, como
nesta entrevista, de falar desses paradigmas e preconceitos, e comentá-los
também nas casas espíritas, já configura um tipo de abertura ao bate-papo
fraterno. É um sinal também de que essas monoideias têm o seu prazo de
validade.
Quero deixar claro ao leitor que os nossos depoimentos aqui não tiveram
como objetivo o de criar conceitos a serem seguidos, pois sabemos que as
vivências mediúnicas nunca são iguais, muito menos estabelecer o que é certo ou
o que está errado neste trabalho. O nosso propósito, inclusive com o livro, é o
de abrir espaço para discussões, permutar ideias, reunir conhecimentos e,
sobretudo, incentivar o desenvolvimento desta mediunidade nas casas espíritas,
para que possamos melhor trabalhar e compreender os seus mecanismos.
Livro “Pintura Mediúnica - A Visão Espírita em
Ampla Pesquisa”, de Adriano Calsone. Parte da renda obtida com a venda de nosso
livro, será revertida ao Grupo Espírita de Trabalho Misail, a qual participo.
Adriano no lançamento do livro, com o
apoio cultural da Prefeitura de São Caetano do Sul.
A Cepa, desenhada pelos Espíritos a Kardec, se
encontra no Prolegômenos de “O Livro dos Espíritos”. Um dos primeiros desenhos
mediúnicos publicados na obra da Codificação.
Nos detalhes: o que
aparentemente parecem borrões são, na verdade,
retratos (de costas) de entidades que tocam fogo em
árvores.
Talvez, um protesto dos Espíritos contra o atual
desmatamento em nosso País?
As “impressões” são mais importantes que as
“assinaturas”. Não há a necessidade de saber qual o Espírito que a pintou.
Médium Adriano Calsone
Infelizmente, a Modelagem Mediúnica é um trabalho
pouco conhecido e realizado no meio espírita. Considerada também uma das
modalidades mediúnicas da Arte Espírita.
Médium Adriano Calsone