Médium Benjamin Teixeira de Aguiar
em diálogo com o Espírito Eugênia-Aspásia, em 18 de junho de 2013.
(Benjamin) –
Estimada Eugênia, poderia tecer algum comentário a respeito das últimas
ocorrências de manifestações populares, Brasil afora? É de domínio comum que as
reivindicações populares são um direito democrático constituído em toda
sociedade dita civilizada, nos dias de hoje, desde que a ordem e a paz públicas
não sejam perturbadas, mormente fazendo alusão aqui ao proibitivo uso de
violência contra pessoas ou o patrimônio comum ou privado. Noticia-se que entre
200 a 250 mil manifestantes tomaram as ruas de grandes capitais brasileiras,
ontem, segunda-feira 17 de junho, sobremaneira à noite. 100 mil apenas no Rio
de Janeiro. 65 mil em São Paulo. Houve eclosões de violência e vandalismo.
Mais de 40 cidades do mundo,
no exterior, também registraram manifestações de rua, com brasileiros (não
residentes em território nacional) apoiando as reclamações de seus
compatriotas, em nosso solo. Grandes e respeitáveis órgãos da imprensa
internacional estamparam o país nas primeiras páginas, em manchetes alarmantes.
O movimento vem num
crescendo desde a semana passada. Autoridades se contradizem, sem atinar os
motivos da onda de sublevações, iniciada com um protesto aparentemente
desprovido de força, contra o aumento no preço do transporte público, em alguns
pontos do país. As razões estampadas em cartazes, muitos improvisados na via
pública, incluem de tudo – desde a corrupção generalizada até os custos com a
Copa das Confederações e a Copa do Mundo do próximo ano, que deveriam, pela
proposta de alguns, transformar-se em maior investimento nos setores de
educação e saúde para todos. Fica evidenciada, porém, a insatisfação popular
com a representatividade política nos cenários municipal, estadual e federal,
com o foco de maior desgosto voltado para o Poder Legislativo.
Um dia histórico, com a
rampa do Congresso Nacional tomada por manifestantes, em Brasília, e a
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro servindo de palco a cenas
impressionantes de baderna e caos que lembravam, em seus paroxismos, de algum
modo, uma praça de guerra. Nem jornalistas conseguiam aproximar-se do local.
Mais de setenta policiais foram acuados dentro da Casa Legislativa da antiga
capital do país, vinte deles feridos, e populares exaltados, aos gritos de
guerra, lançavam paus, pedras e mesmo coquetéis molotov contra expectantes (em
sua esmagadora maioria) homens fardados.
Imagens atípicas no país.
Embora a maior parte do movimento seja pacífica, políticos, jornalistas e
analistas de todas as vertentes quedam-se perplexos, demonstrando estupor e
incompreensão, em torno do que se passa em nossa pátria. Surpresa e confusões
gerais. O protesto toma um nítido caráter apartidário e parece agregar gente de
todos os segmentos da sociedade brasileira.
Arriscamos delinear este
quadro geral, para propiciar aos que nos leem no presente uma visão mais ampla
do a que aludimos, como também para recordar tais acontecimentos àqueles que no
futuro venham compulsar estas páginas. Depois desta contextualização de nossa
pergunta, solicitamos-Lhe, querida Mentora, que, se julgar apropriado e justo,
nos ajude a juntar as peças desse gigante quebra-cabeças, oferecendo-nos algum
esclarecimento em torno do panorama enevoado em que estamos inseridos no
Brasil, atualmente.
(Espírito
Eugênia-Aspásia) – Questões
complexas demandam abordagem interdisciplinar; e, se são também profundas,
remetem às estruturas constitutivas da psique humana. A iniciativa
multidimensional de interpretação do que se passa é o que se arriscará logo
fazer, nos esforços conjuntos de acadêmicos e peritos, sobremaneira com
perspectivas ao gosto da cultura hodierna do domínio físico de existência: de
tom econômico, político e social. Tais pontos de vista não estarão equivocados:
apenas permanecerão incompletos, se não considerarem o tecido profundo da alma
popular e, basicamente, da alma humana, porquanto multidões são formadas de
pessoas, com seus sentimentos e idiossincrasias, suas aspirações e desejos
frustrados, sejam de caráter social, econômico, cultural, psicológico,
espiritual etc.
Não
se pode ignorar a força do inconsciente coletivo. As coletividades conformam
estruturas psíquicas que, em alguns momentos, podem manifestar-se de modo
pujante, irrompendo, por vezes com violência, de acordo com o grau de
repressões sofridas no correr do tempo. É o caso do povo brasileiro, de perfil
pacato e pouco belicoso, que, por isso mesmo, permitiu que tensões fossem
acumuladas longamente, propiciando, por conseguinte, a conjuntura do “explodir
a panela de pressão” da calma e ordem habituais. E os jovens, por serem menos
atreitos a condicionamentos culturais e hipnoses sociais, menos comprometidos
com carreiras profissionais, prole, reputação pessoal, além de portarem o
natural calor juvenil dos hormônios e do idealismo peculiar à sua faixa etária,
fazem-se excelentes condutores da insatisfação geral, canais vivos da potência
psíquica represada, de dezenas de milhões de pessoas que, no momento, se sentem
vítimas de injustiças seculares, no tecido da organização
sociopolítico-econômica brasileira.
(Benjamin) –
Por isso, então, o movimento ainda pode crescer?
(Espírito
Eugênia-Aspásia) – Dependendo
do quanto se haja extravasado ou não desse potencial suprimido e de quantos dos
seus propósitos (inconscientes – permita-nos afirmar) sejam atingidos. Levantes
populares e revoltas, em diversos pontos do globo atualmente, como em outras
épocas, dão nota do que estamos falando. E a História revela esse caldeirão
profundo da etiologia de eventos sociais, de modo mais destacado, no princípio
das revoluções – como particularmente ficou configurado na famigerada Revolução
Francesa.
Por
outro lado, ainda existe um elemento catalisador e integrador da mente
coletiva, que muito lhe facilita a precipitação para o cenário externo dos
acontecimentos históricos: a internet, sobretudo no que tange às redes sociais,
que proporcionam o livre fluxo de informações, como nunca ocorreu na presença
do ser humano sobre o planeta. A internet favorece, com seu alcance
exponencial, que as mentes individuais se conectem umas às outras, numa espécie
de massa psíquica, que funciona como um espectro colossal e indefinível que se
pode entender, grosseiramente, como uma “Mente Maior” ou “Alma Nacional”.
Essa
realidade subjacente, com características particulares – o fenômeno psíquico
sui generis das “estruturas pseudomentais”, que não são consciências humanas,
espíritos eternos ou indivíduos espirituais –, confere tons pitorescos ao que
se dá por detrás dos eventos mais óbvios, externos, relacionados ao movimento
político de ruas no Brasil de hoje: não há propriamente coordenação definida, a
liderança é difusa, pois que, em última instância, não parte de indivíduos
isolados, mas deste “ente místico”, se assim podemos dizer. Algo muito próximo
das ocorrências estudadas pela psicologia de massas, que, não por acaso, observa,
com especial cuidado, o processo do degringolar do comportamento de
conglomerados humanos para irrupções de violência, amiúde perpetrada por
cidadãos que, fora de tais circunstâncias de “mergulho na multidão”, não seriam
capazes de descambar para os atos de barbárie a que são “propelidos” – conforme
as resistências definidas pelo grau de maturidade intelecto-moral e autodomínio
de cada indivíduo.
O
processo de influências mediúnicas deletérias pode ser considerado como fator
etiogênico, igualmente, na medida em que psiquismos mais sensíveis, com
disposições criminógenas, nessas situações especiais do “estar na multidão”,
podem sintonizar com agentes tenebrosos da dimensão extrafísica de existência,
que lhes exaltam as inclinações menos sãs. Além disso, existem as
personalidades que, sem precisar de induções espirituais, agem por si mesmas,
movidas por tendências primitivas e perversas que lhes são inerentes,
propensões estas que se mantêm relativamente ocultas, no dia a dia, por força
das relações em sociedade e seus efeitos civilizatórios.
(Benjamin) –
Você diria, então, que este movimento tem ou terá desdobramentos construtivos?
(Espírito
Eugênia-Aspásia) – Sem
dúvida alguma! Não só porque denota o amadurecimento da consciência
político-social do povo brasileiro, mas também porque acabará provocando uma
aceleração em certos vetores evolutivos, que se mostram mais refratários do que
seria de se esperar, em terras brasileiras. A forma de se fazer política, no
país, por exemplo, está sendo severamente contestada e deverá sofrer um impasse
em algumas vertentes de seu “modus operandi”. As hipocrisias de homens e
mulheres na vida pública alcançaram um nível de saturação inaceitável para
milhões de jovens cabeças pensantes (muitas não tão jovens assim, no corpo
físico – risos), que querem um Brasil melhor, mais justo, mais lúcido, mais
feliz.
Os
jovens (em sua maioria) manifestantes estão de parabéns. Que cada vez mais
utilizem as ferramentas da comunicação em rede, para fomentar o bem comum, além
de expressar opiniões, sentimentos e valores de segmentos da sociedade, quanto
da comunidade pátria como um todo, obviamente sem nunca descurar do empenho
possível no sentido de alijar de seus trâmites democráticos as eclosões de
violência e desrespeito a direitos civis constituídos. Afinal de contas, tal
atitude atesta um total contrassenso: é pela melhoria do atendimento a direitos
e necessidades básicos de todos que essas manifestações populares têm razão de
ser e podem, assim, trazer benefícios para seus participantes, como para a
comunidade inteira.
(Benjamin) –
Agradecido, Eugênia. Algo mais deseja falar neste momento?
(Espírito
Eugênia-Aspásia) – Não,
por ora é tudo que podemos dizer.