A escravidão no Brasil vista pela ótica espírita
A implantação
da escravatura em nosso País, uma das características do Brasil colonial objeto
do livro “O amor é para sempre”, de Cristina Sena, coincidiu
praticamente com o descobrimento, ou seja, poucos anos depois da chegada de
Pedro Álvares Cabral às terras brasileiras iniciava-se aqui o sistema
escravagista, analisado desta forma no cap. V do livro “Brasil, Coração do
Mundo, Pátria do Evangelho”, de autoria de Humberto de Campos, psicografado
pelo médium Chico Xavier:
“ – Ismael (disse Jesus ao protetor espiritual do Brasil), asserena teu mundo íntimo no cumprimento
dos sagrados deveres que te foram confiados. Bem sabes que os homens têm a sua
responsabilidade pessoal nos feitos que realizam em suas existências isoladas e
coletivas. Mas, se não podemos tolher-lhes aí a liberdade, também não podemos
esquecer que existe o instituto imortal da justiça divina, onde cada qual
receberá de conformidade com os seus atos.
Havia eu determinado que a Terra do Cruzeiro
se povoasse de raças humildes do planeta, buscando-se a colaboração dos povos
sofredores das regiões africanas; todavia, para que essa cooperação fosse
efetivada sem o atrito das armas, aproximei Portugal daquelas raças sofredoras,
sem violências de qualquer natureza. A colaboração africana deveria, pois,
verificar-se sem abalos perniciosos, no capítulo das minhas amorosas
determinações.
O homem branco da Europa, entretanto, está
prejudicado por uma educação espiritual condenável e deficiente. Desejando
entregar-se ao prazer fictício dos sentidos, procura eximir-se aos trabalhos pesados
da agricultura, alegando o pretexto dos climas considerados perniciosos. Eles
terão a liberdade de humilhar os seus irmãos, em face da grande lei do arbítrio
independente, embora limitado, instituído por Deus para reger a vida de todas
as criaturas, dentro dos sagrados imperativos da responsabilidade individual;
mas, os que praticarem o nefando comércio sofrerão, igualmente, o mesmo
martírio, nos dias do futuro, quando forem também vendidos e flagelados em
identidade de circunstâncias.
Na sua sede nociva de gozo, os homens
brancos ainda não perceberam que a evolução se processa pela prática do bem e
que todo o determinismo de Nosso Pai deve assinalar-se pelo ‘amai o próximo como a vós mesmos’.
Ignoram voluntariamente que o mal gera
outros males com um largo cortejo de sofrimentos. Contudo, através dessas
linhas tortuosas, impostas pela vontade livre das criaturas humanas, operarei
com a minha misericórdia. Colocarei a minha luz sobre essas sombras, amenizando
tão dolorosas crueldades. Prossegue com as tuas renúncias em favor do Evangelho
e confia na vitória da Providência Divina.”.
Depois de
registrar no seu livro a fala acima transcrita, Humberto de Campos (Espírito)
descreve as sucessivas provações que se abateram sobre Portugal e sua gente,
que desse modo expiavam a dor imposta aos africanos escravizados, e por fim
observa:
“Os filhos da África foram humilhados e
abatidos, no solo onde floresciam as suas bênçãos renovadoras e santificantes;
o Senhor, porém, lhes sustentou o coração oprimido, iluminando o calvário dos
seus indizíveis padecimentos com a lâmpada suave do seu inesgotável amor.
Através das linhas tortuosas dos homens, realizou Jesus os seus grandes e benditos
objetivos, porque os negros das costas africanas foram uma das pedras angulares
do monumento evangélico do Coração do Mundo. Sobre os seus ombros flagelados,
carrearam-se quase todos os elementos materiais para a organização física do Brasil
e, do manancial de humildade de seus corações resignados e tristes, nasceram
lições comovedoras, imunizando todos os espíritos contra os excessos do imperialismo
e do orgulho injustificáveis das outras nações do planeta, dotando-se a alma
brasileira dos mais belos sentimentos de fraternidade, de ternura e de perdão.” (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, cap. V.)
* * *
Em abril de
1988, um mês antes da comemoração do primeiro centenário da Abolição da escravatura
no Brasil, A médium Irene Carvalho recebeu, na instituição A Comunhão Espírita
de Brasília, uma mensagem do Espírito daquela que foi
a Princesa Isabel, autora da célebre Lei
Áurea, e que hoje prefere
apresentar-se como uma “preta-velha”, forma de uma existência anterior que
também foi uma negra escrava.
Eis a
mensagem:
“Diletos
irmãos,
Abençoe-nos Jesus em Sua Luz.
O momento é de profunda reflexão. Neste instante,
ainda ouço o clamor do negro escravo, que mesmo depois de liberto chorava suas
dores, sem ter para onde ir. Reporto-me a esses dias com muita emoção.
Ao assinar a Lei Áurea, a minha mão foi conduzida por
outra mão mais forte. Uma enorme força brotou dentro de mim e mesmo que eu
quisesse não poderia retroceder. Foi um momento de enorme emoção e eu chorei.
O Brasil é sem dúvida um país de grandes dimensões e
haverá lugares para todos, se houver, realmente, uma compreensão maior por
parte daqueles que o governam. Dirijo-me a eles, em especial, afirmando que a
palavra empenhada recebe na Espiritualidade o selo dos grandes compromissos,
severamente inadiáveis. Que ninguém se iluda, pois a cobrança dos débitos será
sempre feita.
Que a semeadura do Evangelho chegue também aos
corações dos políticos e atinja as crianças que percorrem as ruas dos grandes
centros em busca do pão e da verdade, escravas da fome e do vício. Para elas a
única verdade é fugir do abandono. Alimentá-las não é o suficiente, mas sim
possibilitar-lhes um mundo melhor. Uma vida equilibrada para os escravos dos
novos tempos só será possível numa sociedade voltada para o bem e a
fraternidade.
Quem não recebe amor não o pode dar a outrem. Os que
fecham os olhos a essa dura realidade, de adultos e crianças subjugados a
condições subumanas, e especialmente os que se comprazem na existência de tal
condição, por fazer dela sua base de lucro e promoção pessoal, estes, sem
dúvida, podem ser considerados os novos feitores, como os de outrora...
Mãos à obra, brasileiros. Que o anjo Ismael continue a
proteger essa terra gigantesca, que dia a dia se destaca das demais,
convergindo tantas atenções e atraindo múltiplas famílias estrangeiras que
jamais a deixam.
Que o 13 de maio seja lembrado como uma
data simbólica, que nos desperte para as mais nobres realizações de libertação
do ser humano e não como um grito de angústia.
Dia há de chegar em que todos na Terra se abraçarão
como irmãos.
Muita alegria!
Mãe Isabel.”
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